É como um prisma que reflete várias
realidades complexas. Intensifica múltiplas conexões entre governos e
sociedades, entre público e privado, entre mercado e cultura, conformando o
sistema mundial. Aumenta o grau de interdependência da produção, das finanças e
dos serviços, na veloz propagação das redes de comunicação, dos ricos e das
ameaças ambientais, constituindo a dimensão planetária da vida. Parece ser a
inauguração do mundo maravilhoso, mas não seria também a receita para o
desastre?
É bom lembrar que, se no império da
globalização tudo parece representar a união de todos num só mundo, isso não
significa que vivemos todos harmonicamente integrados, com respeito e
entendimento humano, como se a felicidade tivesse batido a nossa porta.
A DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
POLUIÇÃO
1- O que é poluição?
Dá-se
o nome de poluição a qualquer degradação (deterioração, estrago) das condições
ambientais, do habitat de uma coletividade humana. É uma perda, mesmo que
relativa, da qualidade de vida em decorrência de mudanças ambientais. São
chamados de poluentes os agentes que provocam a poluição, como um ruído
excessivo, um gás nocivo na atmosfera, detritos que sujam os rios ou praias ou
ainda um cartaz publicitário que degrada o aspecto visual de uma paisagem.
Seria possível relacionar centenas de poluentes e os tipos de poluição que
ocasionam, mas vamos citar apenas mais dois exemplos.
Um
deles são os agrotóxicos (DDT, inseticidas, pesticidas), muito utilizados para
combater certos microorganismos e pragas, em especial na agricultura. Ocorre
que o acúmulo desses produtos acaba por contaminar os alimentos com substâncias
nocivas à saúde humana, às vezes até cancerígenas. Outro exemplo é o das chuvas
ácidas, isto é, precipitações de água atmosférica carregada de ácido sulfúrico
e de ácido nítrico. Esses ácidos, que corroem rapidamente a lataria dos
automóveis, os metais de pontes e outras construções, além de afetarem as
plantas e ocasionarem doenças respiratórias e da pele nas pessoas, são formados
pela emissão de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio por parte de certas
indústrias. Esses gases, em contato com a água da atmosfera, desencadeiam
reações químicas que originam aqueles ácidos. Muitas vezes essas chuvas ácidas
vão ocorrer em locais distantes da região poluidora, inclusive em países
vizinhos, devido aos ventos que carregam esses gases de uma área para outra.
O problema da poluição,
portanto, diz respeito à qualidade de vida das aglomerações humanas. A
degradação do meio ambiente do homem provoca uma deterioração dessa qualidade,
pois as condições ambientais são imprescindíveis para a vida, tanto no sentido
biológico como no social.
2- A revolução industrial e a
poluição.
Foi
a partir da revolução industrial que a poluição passou a constituir um problema
para a humanidade. É lógico que já existiam exemplos de poluição anteriormente,
em alguns casos até famosos (no Império Romano, por exemplo). Mas o grau de
poluição aumentou muito com a industrialização e urbanização, e a sua escala
deixou de ser local para se tornar planetária. Isso não apenas porque a
indústria é a principal responsável pelo lançamento de poluentes no meio
ambiente, mas também porque a Revolução Industrial representou a consolidação e
a mundialização do capitalismo, sistema sócio-econômico dominante hoje no
espaço mundial. E o capitalismo, que tem na indústria a sua atividade econômica
de vanguarda, acarreta urbanização, com grandes concentrações humanas em
algumas cidades. A própria aglomeração urbana já é por si só uma fonte de
poluição, pois implica numerosos problemas ambientais, como o acúmulo de lixo,
o enorme volume de esgotos, os congestionamentos de tráfego etc.
Mas
o importante realmente é que o capitalismo é um sistema econômico voltado para
a produção e acumulação constante de riquezas. E tais riquezas nada mais são do
que mercadorias, isto é, bens e serviços produzidos - geralmente em grande
escala - para a troca, para o comércio. Praticamente tudo que existe, e tudo o
que é produzido, passa a ser mercadoria com o desenvolvimento do capitalismo.
Sociedades, indivíduos, natureza, espaço, mares, florestas, subsolo: tudo tem
de ser útil economicamente, tudo deve ser utilizado no processo produtivo. O
importante nesse processo não é o que é bom ou justo e sim o que trará maiores
lucros a curto prazo. Assim derrubam-se matas sem se importar com as
conseqüências a longo prazo; acaba-se com as sociedades preconceituosamente
rotuladas de “primitivas”, porque elas são vistas como empecilhos para essa
forma de “progresso”, entendido como acumulação constante de riquezas, que se
concentram sempre nas mãos de alguns.
A
partir da Revolução Industrial, com o desenvolvimento do capitalismo, a
natureza vai pouco a pouco deixando de existir para dar lugar a um meio
ambiente transformado, modificado, produzido pela sociedade moderna. O homem
deixa de viver em harmonia com a natureza e passa a dominá-la, dando origem ao
que se chama de segunda natureza: a natureza modificada ou produzida pelo homem
- como meio urbano, por exemplo, com seus rios canalizados, solos cobertos por
asfalto, vegetação nativa completamente devastada, assim como a fauna original
da área, etc. - , que é muito diferente da primeira natureza, a paisagem
natural sem intervenção humana.
Contudo,
esse domínio da tecnologia moderna sobre o meio natural traz conseqüências
negativas para a qualidade da vida humana em seu ambiente. O homem, afinal,
também é parte da natureza, depende dela para viver, e acaba sendo prejudicado
por muitas dessas transformações, que degradam sua qualidade de vida.
3. A POLUIÇÃO DAS ÁGUAS
Desde
os tempos mais remotos o homem costuma lançar seus detritos nos cursos de água.
Até a Revolução Industrial, porém, esse procedimento não causava problemas, já
que os rios, lagos e oceanos têm considerável poder de autolimpeza, de
purificação. Com a industrialização, a situação começou a sofrer profundas
alterações. O volume de detritos despejados nas águas tornou-se cada vez maior,
superando a capacidade de purificação dos rios e oceanos, que é limitada. Além
disso, passou a ser despejada na água
uma grande quantidade de elementos que não são biodegradáveis, ou seja,
não são decompostos pela natureza. Tais elementos - por exemplo, os plásticos,
a maioria dos detergentes e os pesticidas - vão se acumulando nos rios, lagos e
oceanos, diminuindo a capacidade de retenção de oxigênio das águas e,
consequentemente, prejudicando a vida aquática.
A
água empregada para resfriar os equipamentos nas usinas termelétricas e
atomelétricas e em alguns tipos de indústrias também causa sérios problemas de
poluição. Essa água, que é lançada nos rios ainda quente, faz aumentar a
temperatura da água do rio e acaba provocando a eliminação de algumas espécies
de peixes, a proliferação excessiva de outras e, em alguns casos, a destruição
de todas.
Um
dos maiores poluentes dos oceanos é o petróleo. Com o intenso tráfego de navios
petroleiros, esse tipo de poluição alcança níveis elevadíssimos. Além dos
vazamentos causados por acidente, em que milhares de toneladas de óleo são
despejados na água, os navios soltam petróleo no mar rotineiramente, por
ocasião de lavagem de seus reservatórios. Esses resíduos de petróleo lançados ao mar com a água da
lavagem representam cerca de 0,4 a 0,5% da carga total.
A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
A
poluição atmosférica caracteriza-se basicamente pela presença de gases tóxicos
e partículas sólidas no ar. As principais causas desse fenômeno são a
eliminação de resíduos por certos tipos de indústrias (siderúrgicas,
petroquímicas, de cimento, etc.) e a queima de carvão e petróleo em usinas,
automóveis e sistemas de aquecimento doméstico.
O
ar poluído penetra nos pulmões, ocasionando o aparecimento de várias doenças,
em especial do aparelho respiratório, como a bronquite crônica, a asma e até o
câncer pulmonar. Esses efeitos são reforçados ainda pelo consumo de cigarros.
Nos
grandes centros urbanos, tornam-se freqüentes os dias em que a poluição do ar
atinge níveis críticos, seja pela ausência de ventos, seja pelas inversões
térmicas, que são períodos nos quais cessam as correntes ascendentes do ar,
importantes para a limpeza dos poluentes acumulados nas camadas próximas à
superfície.
A
maioria dos países capitalistas desenvolvidos já possui uma rigorosa legislação
antipoluição, que obriga certas fábricas
a terem equipamentos especiais (filtros, tratamento de resíduos, etc.)
ou a usarem processos menos poluidores. Nesses países também é intenso o
controle sobre o aquecimento doméstico a carvão, o escapamento dos automóveis,
etc. Tais procedimentos alcançam resultados consideráveis, embora não eliminem
completamente o problema da poluição do ar. Por exemplo, pesquisas realizadas
há alguns anos mostraram que chapas de ferro se corroem muito mais rapidamente
em São Paulo do que em Chicago, apesar de esta metrópole norte-americana
possuir maior quantidade de indústrias e automóveis em circulação.
Calcula-se
que a poluição do ar tenha provocado um crescimento de teor de gás carbônico na
atmosfera, que teria sofrido um aumento de 14% entre 1830 e 1930. Hoje em dia
esse aumento é de aproximadamente 0,3% ao ano. Os desmatamentos contribuem
bastante para isso, pois a queima das florestas produz grande quantidade de gás
carbônico. Como o gás carbônico tem a propriedade de absorver calor, pelo
chamado “efeito estufa” , um aumento da proporção desse gás na atmosfera pode
ocasionar um aquecimento da superfície terrestre. Efeito estufa: ação que
certos gases exercem sobre a radiações do calor da terra, interceptando-as e
transmitindo-as de volta a superfície.
Baseados
nesse fato, alguns cientistas estabeleceram a seguinte hipótese: com a elevação
da temperatura média na superfície terrestre, que no início do século XXI será
2ºC mais alta do que hoje, o gelo existente nas zonas polares (calotas polares)
irá se derreter. Consequentemente, o nível do mar subirá cerca de 60 m,
inundando a maioria das cidades litorâneas de todo o mundo. Alguns
pesquisadores pensam inclusive que esse processo já começou a ocorrer a partir
do final da década de 80. Os verões da Europa e até da América têm sido a cada
ano mais quente e algumas medições constataram um aumento pequeno, de
centímetros, do nível médio do mar em algumas áreas litorâneas. Todavia, esse
fato não é ainda admitido por grande parte dos estudiosos do assunto.
Outra
importante conseqüência da poluição atmosférica é o surgimento e a expansão de
um buraco na camada de ozônio, que se localiza na atmosfera - camada
atmosférica situada entre 20 e 80 Km de altitude.
O
ozônio é um gás que filtra os raios ultravioleta do Sol. Se esses raios
chegassem à superfície terrestre com mais intensidade provocariam queimaduras
na pele, que poderiam até causar câncer, e destruiriam as folhas das árvores. O
gás CFC - clorofluorcarbono -, contido em sprays
de desodorantes ou inseticidas, parece ser o grande responsável pela destruição
da camada de ozônio. Por sorte, esses danos foram causados na parte da
atmosfera situada acima da Antártida. Nos últimos anos esse buraco na camada de
ozônio tem se expandido constantemente.
4. OS PROBLEMAS AMBIENTAIS DOS
GRANDES CENTROS
De
modo geral, os problemas ecológicos são mais intensos nas grandes cidade que
nas pequenas ou no meio rural. Além da
poluição atmosférica, as metrópoles apresentam outros problemas graves:
n Acúmulo de lixo e de esgotos. Boa parte dos detritos pode ser recuperada para
a produção de gás (biogás) ou adubos,
mas isso dificilmente acontece. Normalmente, esgotos e resíduos de indústrias
são despejados nos rios. Com freqüência esses rios “morrem” (isto é, ficam sem
peixe) e tornam-se imundos e malcheirosos. Em algumas cidades, amontoa-se o
lixo em terrenos baldios, o que provoca a multiplicação de ratos e insetos.
n Congestionamentos
freqüentes, especialmente nas áreas em que os automóveis particulares são
muito mais importantes que os transportes coletivos muitos moradores da
periferia das grandes cidades dos países do Sul, em sua maioria de baixa renda,
gastam três ou quatro horas por dia só no caminho para o trabalho.
n Poluição sonora, provocada pelo excesso de barulho (dos veículos automotivos,
fábricas, obras nas ruas, grande movimento de pessoas e propaganda comercial
ruidosa). Isso pode ocasionar neuroses na população, além de uma progressiva
diminuição da capacidade auditiva.
n Carência de áreas verdes (parques, reservas florestais, áreas de lazer e
recreação, etc.). Em decorrência de falta de áreas verdes agrava-se a poluição
atmosférica, já que as plantas através da fotossíntese, contribuem para a
renovação do oxigênio no ar. Além disso tal carência limita as oportunidades de
lazer da população, o que faz com que muitas pessoas acabem passando seu tempo
livre na frente da televisão, ou assistindo a jogos praticados por esportistas
profissionais (ao invés de eles mesmos praticarem esportes).
n Poluição visual, ocasionada pelo grande número de cartazes publicitários, pelos
edifícios que escondem a paisagem natural, etc.
Na
realidade, é nos grandes centros urbanos que o espaço construído pelo homem, a
segunda natureza, alcança seu grau máximo. Quase tudo aí é artificial; e,
quando é algo natural, sempre acaba apresentando variações, modificações
provocadas pela ação humana. O próprio clima das metrópoles - o chamado clima
urbano - constitui um exemplo disso. Nas grandes aglomerações urbanas
normalmente faz mais calor e chove um pouco mais que nas áreas rurais vizinhas;
além disso, nessas áreas são também mais comuns as enchentes após algumas
chuvas. As elevações nos índices térmicos do ar são fáceis de entender: o
asfaltamento das ruas e avenidas, as imensas massas de concreto, a carência de
áreas verdes, a presença de grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera
(que provoca o efeito estufa), o grande consumo de energia devido à queima de
gasolina, óleo diesel querosene, carvão, etc., nas fábricas, residências e
veículos são responsáveis pelo aumento de temperatura do ar. Já o aumento dos
índices de pluviosidade se deve principalmente à grande quantidade de
micropartículas (poeira, fuligem) no ar, que desempenham um papel de núcleos
higroscópicos que facilitam a condensação do vapor de água da atmosfera. E as
enchentes decorrem da dificuldade da água das chuvas de se infiltrar no
subsolo, pois há muito asfalto e obras, o que compacta o solo e aumenta sua
impermeabilização.
Todos
esses fatores que provocam um aumento das médias térmicas nas metrópoles
somados aos edifícios que barram ou dificultam a penetração dos ventos e à
canalização das águas - fato que diminui o resfriamento provocado pela
evaporação - conduzem à formação de uma ilha de calor nos grandes centros
urbanos. De fato, uma grande cidade funciona
quase como uma “ilha” térmica em relação às suas vizinhanças, onde as
temperaturas são normalmente menores. Essa
“ilha de calor” atinge o seu pico, o seu grau máximo, no centro da
cidade.
A
grande concentração de poluentes na atmosfera provoca também uma diminuição da
irradiação solar que chega até a superfície. Esse fato, juntamente com a fraca
intensidade dos ventos em certos períodos, dá origem às inversões térmicas.
O
fenômeno da inversão térmica - comum, por exemplo, em São Paulo, sobretudo no
inverno - consiste no seguinte: o ar situado próximo à superfície, que em
condições normais é mais quente que o ar situado bem acima da superfície,
torna-se mais frio que o das camadas atmosféricas elevadas. Como o ar frio é mais
pesado que o ar quente, ele impede que o ar quente, localizado acima dele,
desça. Assim, não se formam correntes de ar ascendentes na atmosfera. Os
resíduos poluidores vão então se concentrando próximo da superfície, agravando
os efeitos da poluição, tal como irritação nos olhos, nariz e garganta dos
moradores desse local. As inversões térmicas são também provocadas pela
penetração de uma frente fria, que sempre vem por baixo da frente quente. A
frente pode ficar algum tempo estagnada no local, num equilíbrio momentâneo que
pode durar horas ou até dias.
ÁGUA:
UMA ESCASSEZ ANUNCIADA
O
volume de água na Terra está estimado em 1 trilhão e 386 bilhões de quilômetros
cúbicos (Km3), sendo a maior parte -
97,2% desse total - formada pela água salgada dos mares e oceanos. Algo como
1,8% da água total está estocada sob a forma de neve ou gelo, no topo das
grandes cadeias de montanhas ou nas zonas polares. Outra porção é a água
subterrânea, que abrange cerca de 0,9% desse total, restando então a água
atmosférica (0,001%) e os rios e lagos de água doce, que ficam com somente
0,0092% dessa água do nosso planeta.
A
cada ano, a energia do Sol faz com que um volume de aproximadamente 500.000 Km3
de água se evapore, especialmente dos oceanos, embora também de águas e rios.
Essa água retorna para os continentes e ilhas, ou para os oceanos, sob a forma
de precipitações: chuva ou neve. Os continentes e ilhas têm um saldo positivo
nesse processo. Estima-se que eles “retirem” dos oceanos perto de 40.000 Km3
por ano. É esse saldo que alimenta as nascentes dos rios, recarrega os
depósitos subterrâneos, e depois retorna aos oceanos pelo deságüe dos rios.
No
entanto, o ritmo acelerado de desmatamentos das últimas décadas, e o
crescimento urbano e industrial, que necessita sempre de mais água, vem
alterando esse ciclo hidrológico. Estudos da ONU mostraram que o desmatamento e
o pastoreio excessivo diminuem a capacidade do solo em atuar como uma grande
esponja, absorvendo águas das chuvas e liberando seus conteúdos lentamente. Na
ausência de coberturas vegetais, e com solos compactados, a tendência das
chuvas é escorrer pela superfície e
escoar rapidamente pelos cursos de água, o que traz como conseqüência as
inundações, aceleração no processo de erosão e diminuição das estabilidade dos
cursos de água, que ficam diminuídos fora do período de cheias, comprometendo
assim a agricultura e a pesca. Não faltam sinal de escassez de água doce. O
nível dos lençóis freáticos baixa constantemente, muitos lagos encolhem e
pântanos secam. Na agricultura, na indústria e na vida doméstica, as
necessidades de água não param de aumentar, paralelamente ao crescimento demográfico e ao aumento nos padrões de vida,
que multiplicam o uso da água. Nos anos 50, por exemplo, a demanda de água por
pessoa era de 400 m3 por ano,
em média no planeta, ao passo que hoje essa demanda já é de 800 m3 por
indivíduo. Em países cada vez mais populosos, ou com carência em recursos
hídricos, já se atingiu o limite de utilização de água. Constatou-se que
atualmente 26 países, a maioria situada no continente africano, totalizando 235
milhões de pessoas, sofrem de escassez de água. As outras regiões do mundo
também não são poupadas. Sintomas de crises já se manifestam em países que
dispõem de boas reservas. Nos locais onde o nível de bombeamento (extração) das
águas subterrâneas é mais intenso que sua renovação natural, se constata um
rebaixamento do nível de lençóis freáticos, que, por esse motivo, exigem
maiores investimentos para serem explorados e ao mesmo tempo vão se tornando
mais salinos.
CRISE
AMBIENTAL E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
Desde a década de 70 a humanidade vem tomando
consciência de que existe uma crise ambiental planetária. Não se trata apenas
de poluição de áreas isoladas, mas de uma real ameaça à sobrevivência dos seres
humanos, talvez até de toda a biosfera. O notável acúmulo de armamentos
nucleares nas décadas de 50, 60 e 70 ocasionou um sério risco de extermínio,
algo que nunca tinha sido possível anteriormente. A multiplicação de usinas
nucleares levanta o problema do escape de radiatividade para o meio ambiente e
coloca a questão do que fazer com o perigoso lixo atômico. O acúmulo de gás
carbônico também na atmosfera representa um risco de catástrofe, pois ocasiona
o crescimento do efeito estufa, que eleva as médias térmicas da maior parte dos
climas do planeta.
Muitos
outros problemas ambientais podem ser lembrados. Um deles é a contaminação de
alimentos por produtos químicos nocivos à saúde humana, como agrotóxicos,
adubos químicos, hormônios e medicamentos aplicados comumente ao gado para que
ele cresça mais rapidamente ou não contraia doenças. Podemos acrescentar ainda
a crescente poluição dos oceanos e mares, o avanço da desertificação, o
desmatamento acelerado das últimas grandes reservas florestais originais do
planeta (Amazônia, bacia do rio Congo e Taiga), a extinção irreversível de
milhares ou até milhões de espécies vegetais e animais, etc.
Podemos
falar numa consciência ecológica da humanidade em geral, embora com diferente
ritmos - mais avançada no Norte e mais tardia nos países subdesenvolvidos - ,
que se iniciou por volta da década de 70 e cresce a cada ano. Trata-se da
consciência de estarmos todos numa mesma “nave espacial”, o planeta Terra, o
único que conhecemos que possibilitou a existência de uma biosfera. Trata-se
ainda da consciência de que é imperativo para a própria sobrevivência da
humanidade modificar o nosso relacionamento com a natureza. A natureza deixa
aos poucos de ser vista como mero recurso inerte e passa a ser encarada como um
conjunto vivo do qual fazemos parte e com o qual temos que procurar viver em
harmonia.
UM
PROBLEMA MUNDIAL
Um
fato que ficou claro desde os anos 70 é que o problema ambiental, embora possa
apresentar diferenças nacionais e regionais, é antes de mais nada planetário,
global. A longo prazo, de nada adianta, por exemplo, transferir indústrias
poluidoras de uma área (ou país) para outra, pois do ponto de vista da biosfera
nada se altera. Não podemos esquecer que a atmosfera é uma só, que as águas se
interligam (o ciclo hidrológico), que os ventos e os climas são planetários.
Vamos
imaginar que estamos numa enorme casa, com todas a janelas e portas fechadas, e
há uma fogueira num quarto nobre envenenando o ar. Alguém propõe então
transferir a fogueira para outro quarto, considerado menos nobre. Isso elimina
o problema de ar contaminado? Claro que não. No máximo pode dar a impressão de
que por algum tempo melhorou a situação dos que ocupam o quarto nobre. Todavia,
depois de um certo período (horas ou dias), fica evidente que o ar da casa é um
só e que a poluição num compartimento propaga-se para todo o conjunto. A
biosfera, onde se inclui o ar que respiramos, as águas e todos os ecossistemas,
é uma só apesar de muito maior que essa casa hipotética. O ar, embora exista em
grande quantidade, na realidade é limitado e interligado em todas as áreas.
Poderíamos abrir portas e janelas daquela casa, mas isso não é possível para a
biosfera, para o ar ou as águas do nosso planeta.
Outro
aspecto do caráter mundial que a crise ambiental possui é que praticamente tudo
o que ocorre nos demais países acaba nos afetando. Até algumas décadas atrás
era comum a opinião de que ninguém tem nada a ver com os outros, cada país pode fazer o que bem
entender com o seu território e com as suas paisagens naturais. Hoje isso
começa a mudar. Vai ficando claro que explosões atômicas russas ou
norte-americanas, mesmo realizadas no subsolo ou em áreas desérticas desses
países, acabam mais cedo ou mais tarde
nos contaminando pela propagação da radiação. Também a poluição dos mares e
oceanos (e até dos rios, que afinal desembocam no mar), mesmo realizada na
litoral de algum país, acaba se propagando, atingindo com o tempo outros
países. As enormes queimadas de florestas na África ou na América do Sul não
dizem respeito unicamente aos países que as praticam; elas fazem diminuir a
massa vegetal sobre o planeta ( e as plantas, pela fotossíntese, contribuem
para a renovação do oxigênio do ar) e, o que é mais importante, liberam enormes
quantidades de gás carbônico na atmosfera, fato que acaba por atingir a todos
os seres humanos. Inúmeros outros exemplos poderiam ser mencionados. Todos eles
levam à conclusão de que a questão do meio ambiente é mundial e é necessário
criar formas de proteção da natureza que sejam planetárias, que não fiquem
dependentes somente de interesses locais - e as vezes mesquinhos - dos governos
nacionais.
POLÍTICA
E MEIO AMBIENTE
A
crise ambiental vem suscitando mudanças na política. Não apenas as preocupações
ecológicas cresceram enormemente nos debates e nos programas de políticos e de
partidos, como também novas propostas surgiram. Até mais ou menos a década de
60 era o raro partido político, em qualquer parte do mundo, que tivesse alguma
preocupação com a natureza. Hoje esse tema ganha um certo destaque nos
programas, nas promessas eleitorais, nos discursos e algumas vezes até na ação
dos diversos partidos, em muitas partes do mundo. Multiplicaram-se os
ecologistas, as organizações e os movimentos ecológicos, assim como os partidos
denominados verdes que defendem uma política voltada basicamente para uma nova
relação entre a sociedade e a natureza.
Como
infelizmente é comum em nossa época mercantilizada, também no movimento “verde”
há muito oportunismo: às vezes a defesa do meio ambiente resulta em promoção
pessoal e mesmo em altos ganhos. Ë o caso das empresas que visam apenas ao
lucro com a venda de produtos ditos naturais. Podemos lembrar ainda os
constantes shows musicais cuja renda se destinaria aos indígenas ou aos
seringueiros da Amazônia - que em geral até hoje nunca viram um centavo desses
milhões de dólares. Apesar de tudo isso, não se pode ignorar a renovação que a
problemática ambiental ocasionou nas idéias políticas.
Até
alguns anos atrás falava-se em progresso ou desenvolvimento e aparentemente
todo mundo entendia e concordava. O que provocava maiores polêmicas eram os
meios para chegar a isso: para alguns o caminho era o capitalismo, para outros
o socialismo; certas pessoas diziam que um governo democrático era melhor para
se alcançar o progresso, outras afirmavam que só um regime forte e autoritário
poderia colocar ordem na sociedade e promover o desenvolvimento. Mas o objetivo
era basicamente o mesmo: o crescimento acelerado da economia, a construção de
um número cada vez maior de estradas, hospitais, edifícios, aeroportos e
escolas, a fabricação de mais e mais automóveis, a extensão sem fim dos campos
de cultivo. A natureza não estava em questão. O único problema de fato era a
quem esse desenvolvimento beneficiária: à maioria ou a minoria da população.
Usando
uma imagem, podemos dizer que o progresso era um trem no qual toda a humanidade
viajava, embora alguns estivessem na frente e outros atrás, alguns comodamente
sentados e outros de pé. Para os chamados conservadores (isto é, a “direita”),
isso era natural e inevitável: sempre existiriam os privilegiados e os desfavorecidos. Para os denominados
progressistas ( ou seja, a “esquerda”), essa situação era intolerável e tornava
necessário fazer uma reformulação para igualar a todos. Mas todas as pessoas
concordavam com a idéia de que o trem deveria continuar no seu caminho, no rumo
do “progresso”; havia até discussões sobre a melhor forma de fazer esse trem
andar mais rapidamente.
A
grande novidade da crise ambiental é que ela suscitou a seguinte pergunta: Para
onde o trem está indo? E a resposta parece ser: Para um abismo, para um
catástrofe. De fato, ao enaltecer o progresso durante séculos, imaginava-se que
a natureza fosse infinita: poderíamos continuar usando petróleo, ferro,
manganês, carvão, água, urânio, etc. à vontade, sem problemas. Sempre haveria
um novo espaço a ser ocupado, um novo recurso a ser descoberto e explorado. A
natureza, vista como um mero recurso para a economia, era identificada com o
universo, tido como infinito.
Mas
hoje sabemos que a natureza que permite a existência da vida e fornece os bens
que utilizamos - a natureza para os homens, afinal - ocorre somente no planeta
Terra, na superfície terrestre. E ela não é infinita; ao contrário, possui
limites que, apesar de amplos, já começam a ser atingidos pela ação humana. Não
há espaço, atmosfera, água, ferro, petróleo, cobre, etc. para um progresso
ilimitado ou infinito. É necessário portanto repensar o modo de vida, o consumo,
a produção voltada unicamente para o lucro e sem nenhuma preocupação com o
futuro da biosfera. Essa é a grande mensagem que o movimento ecológico trouxe
para a vida política.
A
QUESTÃO AMBIENTAL DA NOVA ORDEM MUNDIAL
Durante
a ordem mundial bipolar a questão ambiental era considerada secundária. Somente
os movimentos ecológicos e alguns cientistas alertavam a humanidade sobre os
riscos de catástrofes ambientais. Mas a grande preocupação dos governos - e em
especial da grandes potências mundiais - era com a guerra fria, com a oposição
entre o capitalismo e o socialismo. O único grande risco que parecia existir
era o da Terceira Guerra Mundial, uma guerra atômica entre as superpotências de
então. Mas o final da bipolaridade e da guerra fria veio alterar esse quadro.
Nos anos 90 a questão do meio ambiente torna-se essencial nas discussões
internacionais, nas preocupações dos Estados - e principalmente dos grandes
centros mundiais de poder - quanto ao futuro.
Já
antes do final dos anos 80 percebia-se que os problemas ecológicos começavam a
preocupar as autoridades soviéticas, norte-americanas e outras, mas sem
ganharem muito destaque, Houve em 1972, na Suécia, a Primeira Conferência
Mundial sobre o Meio Ambiente, promovida pela ONU e com a participação de dezenas
de Estados. Naquele momento, a questão ambiental começava a se tornar um
problema oficial e internacional. Mas foi a Segunda Conferência Mundial sobre o
Meio Ambiente, a ECO-92 ou RIO-92, realizada no Brasil vinte anos depois da
primeira, que contou com maior número de participantes (quase cem
Estados-nações) e os governos enviaram não mais técnicos sem poder de decisão,
como anteriormente, e sim políticos e cientistas de alta expressão em seus
países. Isso porque essa segunda conferência foi realizada depois do final da
guerra fria e o desaparecimento da “ameaça comunista” veio colocar a questão
ambiental como um dos mais importantes riscos à estabilidade mundial na nova
ordem. Além disso, os governos perceberam que as ameaças de catástrofes ecológicas
são sérias e precisam ser enfrentadas, e que preservar um meio ambiente sadio é
condição indispensável para garantir um futuro tranqüilo para as novas
gerações.
Mas
a problemática ambiental suscita várias controvérsias e oposições. Os países
ricos voltam suas atenções para queimadas e os desmatamentos nas florestas
tropicais, particularmente na floresta Amazônica, a maior de todas. Já os
países pobres, e em particular os que têm grandes reservas florestais, acham
natural gastar seus recursos com o objetivo de se desenvolverem. “Se os países
desenvolvidos depredaram suas matas no século passado, por que nós não podemos
fazer o mesmo agora?”, argumentam. Alguns chegam até afirmar que essa
preocupação com a destruição das florestas tropicais ou com outras formas de
poluição nos países subdesenvolvidos ( dos rios, dos grandes centros urbanos,
perda de solos agrícolas por uso inadequado, avanço da desertificação, etc.)
nada mais seria que uma tentativa do Norte de impedir o desenvolvimento do Sul;
a poluição e a destruição das florestas, nessa interpretação, seriam fatos
absolutamente naturais e até necessários para se combater a pobreza. Outros
ainda - inclusive países ricos, como o Japão, a Suécia ou a Noruega -
argumentam que é uma incoerência os Estados Unidos pretenderem liderar a
cruzada mundial contra a poluição quando são justamente eles, os
norte-americanos, que mais utilizam os recursos naturais do planeta.
Todos
esses pontos de vista têm uma certeza razão, e todos eles são igualmente
limitados ou parciais. Os atuais países desenvolvidos, de fato, em sua maioria
depredaram suas paisagens naturais no século passado ou na primeira metade
deste, e isso foi essencial para o tipo de desenvolvimento que adotaram: o da
Primeira ou da Segunda Revolução Industrial, das indústrias automobilísticas e
petroquímicas. Parece lógico então acusar de farsante um país rico preocupado
com a poluição atual nos países subdesenvolvidos. Mas existe um complicador aí:
é que até há pouco tempo, até por volta dos anos 70, a humanidade não sabia que
a biosfera podia ser irremediavelmente afetada pelas ações humanas e existiam
muito mais florestas ou paisagens nativas no século passado do que hoje.
Nas
últimas décadas parece que o mundo ficou menor e a população mundial cresceu de
forma vertiginosa, advindo daí um maior desgaste nos recursos naturais e, ao
mesmo tempo, uma consciência de que a natureza não é infinita ou ilimitada.
Assim, o grande problema que se coloca nos dias atuais é o de se pensar num
novo tipo de desenvolvimento, diferente daquela que ocorreu até os anos 80, que
foi baseado numa intensa utilização - e até desperdício - de recursos naturais
não renováveis. E esse problema não é meramente nacional ou local e sim mundial
ou planetário. A humanidade vai percebendo que é uma só e que mais cedo ou mais
tarde terá que estabelecer regras civilizadas de convivência - pois o que
prevaleceu até agora foi a “lei da selva” ou a do mais forte - , inclusive com
uma espécie de “Constituição” ou carta de gestão do planeta , o nosso espaço de
vivência em comum. É apenas uma questão de tempo para se chegar a isso, o que
provavelmente ocorrerá no século XXI.
A
BIODIVERSIDADE
Um
elemento que ganha crescente destaque dentro da questão ambiental é a
biodiversidade, ou diversidade biológica ( de espécies animais e vegetais, de
fungos e microrganismos). Preservar a biodiversidade é condição básica para
manter um meio ambiente sadio no planeta: todos os seres vivos são
interdependentes, participam de cadeias alimentares ou reprodutivas, e
sabidamente os ecossistemas mais complexos, com maior diversidade de espécies,
são aqueles mais duráveis e com maior capacidade de adaptação às mudanças
ambientais. Além disso, a biodiversidade é fundamental para a biotecnologia
que, como já vimos, é uma das indústrias mais promissoras na Terceira Revolução
Industrial que se desenvolve atualmente.
A
humanidade já catalogou e definiu quase 1,5 bilhão de organismos, mas isso é
muito pouco: calcula-se que o número total deles na Terra chegue a no mínimo 10
bilhões e talvez até a 100 bilhões! E a cada ano milhares de espécies são
exterminadas para sempre, numa proporção que pode atingir 30% das espécies
totais dentro de três décadas, se o atual ritmo de queimada e desmatamentos nas
florestas tropicais ( as mais ricas em biodiversidade), de poluição nas águas,
etc. continuar acelerado. Isso é catastrófico, pois essas espécies foram o
resultado de milhões de anos de evolução no planeta, e com essa perda a
biosfera vai ficando mais empobrecida em diversidade biológica, o que e
perigoso para o sistema de vida como um todo.
Não
podemos esquecer a importância econômica e até medicinal de cada espécie. Por exemplo: as flores que
cultivamos em jardins e os frutos e hortaliças que comemos são todos derivados
de espécies selvagens. O processo de criar novas variedades, com cruzamentos ou
com manipulação genética, produz plantas híbridas mais frágeis que as nativas,
mais suscetíveis a doenças ou ao ataque de predadores, que necessitam portanto
de mais proteção para sobreviverem e, de tempos em tempos, precisam de um novo
material genético para serem corrigidas e continuarem produzindo colheitas. Por
isso, precisamos ter a maior diversidade possível, principalmente das plantas
selvagens ou nativas, pois são elas que irão fornecer esse novo material
genético.
Os
organismos constituem a fonte original dos princípios ativos* dos remédios,
mesmo que estes posteriormente sejam produzidos artificialmente em
laboratórios. Os antibióticos, por exemplo, foram descobertos a partir do bolor
( fungos que vivem em matéria orgânica por eles decomposta); e a aspirina veio
originalmente do chá de uma casca de árvore da Inglaterra. É por isso que há
tanto interesse atualmente em pesquisas de florestas tropicais ou dos oceanos,
em mapeamento genético de organismos. A grande esperança de um novo tipo de
desenvolvimento, menos poluidor que o atual, está principalmente na
biotecnologia: produzir fontes de energia ou plásticas a partir de bactérias,
alimentos em massa a partir de algas marinhas, remédios eficazes contra doenças
que matam milhões a cada ano originados de novos princípios ativos de
microrganismos ou plantas, etc.
A
biodiversidade, assim, é também uma fonte potencial de imensas riquezas e o
grande problema que se coloca é saber quem vai lucrar com isso: se os países
ricos, que detêm a tecnologia essencial para descobrir novos princípios ativos
e fabricá-los , ou se os países detentores das grandes reservas de
biodiversidade, das florestas tropicais em especial. O mais provável é um
acordo para compartilhar por igual as descobertas e os lucros, mas ainda
estamos longe disso. Os países desenvolvidos, como sempre, têm um trunfo na
mão, a tecnologia; mas alguns países subdesenvolvidos, os que têm grandes
reservas de biodiversidade, têm agora outro trunfo, uma nova forma de
matéria-prima que não está em processo de desvalorização, como as demais ( os
minérios e os produtos agrícolas).
OS
MOVIMENTOS ECOLÓGICOS
Nos
países desenvolvidos, que se constituem como “sociedade de consumo”, a poluição
tende a alcançar graus elevados. A publicidade intensa voltada para os lucros
das empresas, convida as pessoas a consumirem cada
vez mais. As embalagens de plástico, lata ou papel tornam-se mais importantes
que o próprio produto. A moda se altera rapidamente para que novos produtos
possam ser fabricados e lançados no mercado. A cada ano que passa as
mercadorias são feitas para durarem cada vez menos, para não diminuir nunca o
ritmo de crescimento: um automóvel hoje é fabricado para durar no máximo quinze
anos; as habitações construídas atualmente têm duração muito menor que as do
passado e o mesmo se pode dizer das roupas, além de vários outros produtos.
Mas
é justamente nesses países desenvolvidos que os movimentos ecológicos, as reivindicações
populares por um ambiente melhor estão mais avançados. Isso porque a tradição
democrática nessas nações é mais antiga e mais forte. Uma das principais formas
de se avançar com a democracia, hoje, consiste em lutar por uma melhor
qualidade de vida, o que já vem ocorrendo com as associações de consumidores,
que lutam por seus direitos, com as organizações de moradores, que reivindicam
certas melhorias em seus bairros ou lutam contra a instalação de alguma
indústria poluidora, etc.
Além
disso, os cidadãos de certos países exigindo - e, em boa parte, conseguindo - a
aprovação de leis que combatam a poluição e facilitem os processos judiciais
contra empresas que poluem o ambiente. Tudo isso leva os governos desses países
desenvolvidos - que, normalmente, têm uma certa preocupação com eleições e
votos - a se voltarem para a questão do meio ambiente, com planos de
reurbanização de certas cidades, com a intensificação da fiscalização sobre as
empresas poluidoras e com alguns tímidos projetos de reflorestamento ou
preservação das poucas matas originais que restam.
A
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
1. RECURSOS NATURAIS E
CONSERVACIONISMO
Constituem
recursos naturais todos os bens da natureza que o homem utiliza, como o ar, a
água e o solo. Costuma-se classificar os recursos naturais em dois tipos
principais: renováveis e não renováveis.
Os
recursos naturais renováveis são aqueles que, uma vez utilizados pelo homem,
podem ser repostos. Por exemplo: a vegetação (com o reflorestamento), as águas
em geral (com excesso dos lençóis fósseis ou artesianos), o ar e o solo (que
pode ser recuperado através do pousio, da proteção contra erosão, da adubação
correta, da irrigação, etc.)
Os
recursos naturais não renováveis são aqueles que se esgotam, ou seja, que não
podem ser repostos. Exemplos: o petróleo, o carvão, o ferro, o manganês, o
urânio, a bauxita (minério de alumínio), o estanho, etc. Uma vez utilizado o
petróleo, por exemplo, através da produção - e da queima - da gasolina, do óleo
diesel, do querosene, etc., é evidente que não será possível repor ou reciclar
os restos.
Essa
separação entre recursos renováveis e não renováveis é apenas relativa. O fato
de um recurso ser renovável, ou reciclável, não significa que ele não possa ser
depredado ou inutilizado: se houver mau uso ou descuido com a conservação, o
recurso poderá se perder. Por exemplo, degradação ou destruição irreversível de
solos, desaparecimento de uma vegetação rica e complexa, que e substituída por
outra pobre e simples, etc. E mesmo o ar e a água, que são extremamente
abundantes, existem em quantidades limitadas no planeta: a capacidade deles de
suportar ou absorver poluição, sem afetar a existência da vida, evidentemente
não é infinita. Dessa forma, mesmo os recursos ditos renováveis só podem ser
utilizados a longo prazo por meio de métodos racionais, com uma preocupação
conservacionista, isto é, que evite os desperdícios e os abusos.
Conservacionismo
ou conservação dos recursos naturais é o nome que se dá à moderna preocupação em
utilizar adequadamente os aspectos da natureza que o homem transforma ou
consome. Conservar, nessa caso, não significa guardar e sim utilizar
racionalmente. A natureza deve ser consumida ou utilizada para atender às
necessidades do presente dos seres humanos, mas levando em conta o futuro, as
novas gerações que ainda não nasceram, mas para as quais temos a obrigação de
deixar um maio ambiente sadio.
Foi
somente a partir da degradação do meio ambiente pelo homem - e da extinção de
inúmeras espécies animais e vegetais - que surgiu essa preocupação
conservacionista. O intenso uso da natureza pela sociedade moderna colocou,
especialmente no nosso século, uma série de interrogações quanto ao futuro do
meio ambiente: Quando se esgotarão alguns recursos básicos, como o petróleo ou o carvão? Como evitar a
destruição das reservas florestais que ainda restam em nosso planeta e ao mesmo
tempo garantir alimentos e recursos para crescente população mundial? O que
fazer para que não ocorra a extinção total de certas espécies ameaçadas, como
as baleias? Como os países subdesenvolvidos poderão resolver seus problemas de
pobreza, fome e subnutrição sem depredar a natureza? O conservacionismo procura
responder a essas e outras questões
semelhantes conciliando o desenvolvimento econômico com a defesa do meio
ambiente, por meio da utilização adequado dos bens fornecidos pela natureza.
2.
O PATRIMÔNIO CULTURAL - ECOLÓGICO
Somente a utilização racional
dos recursos naturais não basta. O conservacionismo é uma atitude necessária
mas insuficiente. Além do uso racional da natureza, isto é, pelo maior tempo
possível e beneficiando o maior números de pessoas, é necessário também
preservá-la, resguardá-la tal como ela ainda existe em certas áreas. Daí ter
surgido a idéia de patrimônio cultural e ecológico da humanidade. Trata-se de
paisagens culturais ou obras de cultura que possui um valor inestimável; por
exemplo, um rico ecossistema, uma cidade
ou um monumento que retratem ou simbolizem uma época ou uma civilização. São exemplos de
patrimônio ecológico: o Pantanal Mato-Grossense (que possui a fauna mais rica e
variada do continente americano), a Amazônia, a floresta do Congo na África, a
Antártida. Como patrimônios culturais podemos citar a Grande Muralha da China,
as pirâmides do Egito as cidades de Meca e Jerusalém.
Por
que surgiu a necessidade de preservar ou resguardar certas áreas ou obras,
tanto culturais como naturais? E por que se fala em patrimônio
cultural-ecológico?
Coma
industrialização e a chamada vida moderna, tudo se transforma, tudo é
constantemente modificado em nome do “progresso”. As memórias do passado e a
diversidade criada pela natureza são
destruídas a cada dia. Não se respeita nem a História - as tradições e obras
das gerações anteriores - nem a natureza (os ecossistema em diversidade). Para
que as futuras gerações tenham uma idéia da riqueza do que foi produzido no
planeta, para que sobrevivam amostras de todos os valores produzidos pela
natureza ou pela História, é necessário definir esses patrimônios, que são
áreas consideras intocadas, protegidas, resguardadas contra a ambição do lucro
do comércio. O estabelecimento de áreas tombadas ou protegidas pelo poder
público um avanço na defesa da natureza e das obras artísticas, arquitetônicas
ou urbanísticas importantes do passado. Sem essa proteção, tais obras estariam
condenadas à destruição para dar lucro a alguns.
BY PALMIRO SARTORELLI NETO